domingo, 30 de maio de 2010

SPA, o mal de uma geração

Fiquei com vontade de escrever sobre um assunto mais sério, pois já estou quase começando a me auto-diagnosticar com um problema assustador: a Síndrome do Pensamento Acelerado (SPA). A SPA é descrita por Augusto Cury, um psiquiatra e escritor brasileiro (acredito que já mencionei ele uma vez aqui no blog), como um resultado do excesso de informações desordenadas com as quais somos bombardeados todos os dias atualmente, e produz sintomas tais como irritabilidade, problemas de memória e de concentração, alteração do sono e ansiedade. Vou falar algumas coisas que não só vêm acontecendo comigo, mas acredito que com várias outras pessoas também.

Ultimamente tenho tido alguns problemas não só para memorizar conceitos importantes para avaliações da faculdade, como para me lembrar de coisas em geral. Às vezes estou lendo um livro e em certo ponto é mencionado o nome de uma personagem da história, mas não consigo me lembrar quem ela é, fico confundindo com outras personagens e tenho que voltar não sei quantas páginas do livro para esclarecer quem é a tal personagem. Ou então estou falando com alguém sobre alguma coisa, aí o assunto dá uma pequena desviada e logo em seguida já não consigo lembrar o que estava sendo dito antes. Nomes de ruas também não consigo me lembrar de jeito nenhum, e por isso sempre fico embaraçado ao ter que dar informações para alguém na rua. E em várias outras situações a memória me falha.

Tenho sentido a questão da ansiedade também. São poucas as vezes em que consigo me sentir bem sem fazer nada. Sempre tenho que ficar fazendo alguma coisa, nem que seja desperdiçar todo o tempo na internet. E quando estou fazendo algo assim, sempre fico pensando que poderia estar fazendo outra coisa melhor, ou que deveria estar estudando. Sempre aquela tensão, não dá pra relaxar, sabe? Tem vezes que estou voltando da aula e fico pensando: Hoje vou estudar ou vou jogar um PS3? Mas aí chego em casa e fico enrolando no PC (Orkut, Youtube e outros males internetescos), com preguiça tanto de estudar, porque é chato fazer os exercícios, como de jogar videogame, porque muitas vezes faz tempo que não jogo e tenho preguiça de jogar aquele período inicial até me reabituar aos comandos do jogo. No fim não faço nem um, nem outro, e fica aquela sensação ruim de mau aproveitamento do tempo.

Cada vez mais somos entupidos com quantidades absurdas de informação. Basta olhar o terror que é estar no 3º ano do Ensino Médio. Para aumentar as chances nessa concorrência que é o vestibular, temos de nos submeter a 8, 9 horas que aula por dia durante a semana, muitas vezes temos aula aos sábados e domingos, juntando colégio e cursinho, e há gente que além disso faz cursos de língua estrangeira ao mesmo tempo. Isso sem falar no tempo que a criatura passa estudando em casa, por conta própria. E pra quê? Pra entrar numa faculdade, esquecer 80% de tudo e ser apresentado a quantidades maiores ainda de informação num tempo menor. Algumas aulas de faculdade precisam ser lecionadas tão rápido que chega a ser hipocrisia supor que o aluno tenha entendido tudo que foi dito.

Mas apesar disso, pessoalmente acho que o problema da SPA se dá majoritariamente por causa da facilidade de informação que a internet proporciona. Tu lê alguma coisa interesante ali, depois é levado por um link pra uma outra coisa lá, aí tu gosta do assunto, procura no Google e vê mais uma porrada de coisas sobre o tal assunto, e no final passaram 4 horas sem nem sentir a passagem do tempo. E tu nem consegue mais lembrar a primeira coisa que tu tinha visto.

Quer ver um exemplo? Faz tempo que não leio uma obra literária "expressiva", então estava fazendo uma busca por recomendações na internet. Bom, aí primeiro achei esse post aqui, do Nerds Somos Nozes. Depois fui olhar nos comentários do post e já consegui tomar conhecimento de mais algumas obras. Segui a busca e cheguei a diversos outros livros, mas não anotava nada, pois na minha cabeça eu estava só fazendo um overview, um "basicão" do que eu poderia pegar pra começar a ler. Fui indo, e nisso se passaram 2 horas de pesquisa.

Resultado: esqueci vários dos nomes dos livros que tinha achado interessantes, e agora não consigo mais achá-los. E os que eu lembro o nome, fiquei indeciso sobre qual começo a ler primeiro. Pesquisei tantas obras, tantas temáticas legais, li tantas opiniões diferentes sobre os livros, que agora não sei por onde começar. Fica uma sensação de imensidão, de que é preciso selecionar muito bem o que vamos ler, já que não podemos ler tudo nessa vida, e essa sensação nos deixa perdidos, nos gera ansiedade. É por isso inclusive que hoje em dia as pessoas gostam tanto de listas de Top 10 isso, Top 50 aquilo, Top 100 whatever, etc. Mas isso já é assunto para outro dia, hehe.

No passado, não se tinha tanta informação à disposição com tanta facilidade e rapidez. Tu ía lá comprar a fita ou o vinil do artista tal porque tu via um clipe dele na TV, uma música no rádio ou porque um amigo teu tinha te indicado. Hoje nós temos acesso a catálogos colossais de artistas de estilos inimagináveis num piscar de olhos, digo, num clique do mouse.
Tudo que é demais faz mal, como é de conhecimento geral. Saber muito é legal, mas pegar leve e dar um tempo pro cérebro também. Um amigo indicou um filme que ele achou muito bom? Confie nele; veja logo o filme em vez de ficar procurando algum outro considerado melhor pela crítica. Se for legal, beleza. Se não for, pelo menos agora tu tens uma opinião própria agora!

Renato Russo reclamava da "geração Coca-Cola". Será que algum dia vamos ter alguém para reclamar da nossa deprimente geração Internet, do excesso de informação mastigada, da falta de pensamento crítico, ou estamos condenados engolir a alienação proporcionada pelos Cines, Restarts e o caralho a quatro para sempre? Que tal produzirmos um pouco de conhecimento? Vá escrever.


2 comentários:

TALAMASCA disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
†† Glória †† disse...

me sinto mal por pertencer á esta geração..
to tentando mudar..
n sofro de spa
sofro de deslocamento geracional
odeio essa imensidão de informação
e tenho gostado dos posts sobre "nada" daqui
tu tm q falar do q t vem na cabeça, afinal, o blog é teu!

bjos