quinta-feira, 17 de março de 2011

O dia em que não pensei demais

Nessa postagem venho compartilhar convosco duas situações corriqueiras do dia-a-dia que ocorreram comigo no dia de hoje, que normalmente teriam causado constrangimento, vergonha e provavelmete seriam causadoras de longos momentos de reflexão sobre minha própria ridicularidade, mas que surpreendentemente, dessa vez, não me afetaram tanto.

A primeira foi por volta das duas da tarde, quando telefonei para o Instituto de Letras da minha faculdade para obter mais informações sobre o anúncio de uma bolsa, no valor de R$400,00 mensais, para ser o responsável pelo laboratório de informática do tal instituto.

Entre perguntas e respostas, me ocorreu a brilhante ideia de questionar sobre a possibilidade de cancelamento da bolsa, caso o compromisso acabasse prejudicando meus estudos. Foi só quando a professora responsável respondeu que, neste caso, preferiria que eu nem começasse - pois seria um grande inconveniente ter de fechar o laboratório no meio do semestre por causa da falta de comprometimento de um bolsista - que eu percebi a magnitude do meu próprio descaramento por "lançar" uma pergunta daquele naipe mesmo após ter lido as palavras "responsabilidade" e "assiduidade" na descrição dos requisitos que foi apresentada no anúncio.

A resposta dela, no primeiro instante, me deixou desconcertado de forma que só fui capaz de fazer mais uma ou duas perguntas, que eu tinha anotado previamente num papel ao lado do telefone para não esquecer, e logo em seguida agradeci brevemente e desliguei.

Eu sou do tipo de pessoa que fica realmente constrangida com esse tipo de mal-entendido (ela provavelmente deve ter me achado um "vida-boa" desleixado). Tem vezes que fico inventando, no banho, no ônibus, mil e uma coisas que eu poderia ter dito para desfazer a má impressão causada por uma frase impensada ou mal formulada. Fico pensando nas possíveis respostas da outra pessoa, e então nas minhas respostas às respostas dela, de modo que formo verdadeiros diálogos fictícios que poderiam ter se concretizado no mundo real se eu não fosse tão burro, imbecil, tonto, idiota, bobalhão e tantos outros adjetivos que só minha mente psicótica seria capaz de pensar.

No entanto, admirei-me por tal comportamento, dessa vez, não ter durado mais do que cinco minutos; após isso "liguei o foda-se", repeti para mim mesmo que aquela professora não me conhecia e nem ao menos vira meu rosto, e de fato consegui não me importar durante o resto da tarde.

A segunda situação foi quando, na saída da aula, ao seguir o corredor e descer as escadas, com dezenas de alunos conversando e fazendo barulho, atendi no meu celular uma chamada de uma moça que queria falar com o Giovanni. Reconheci a voz de uma ex-colega dos tempos do Ensino Médio e não tardei a verbalizar o mais informal dos "E aí?!'s" de que se tem notícia. O problema é que reconheci errado; me dei conta disso assim que a mulher fez uma pausa típica de quem não entendeu nada e depois, ainda meio sem graça, começou a falar que era da Cultura Inglesa, ao que eu respondi com um centésimo da graça dela: "Ah, sim...", e não consegui entender o resto devido à poluição sonora do lugar onde eu estava. Expliquei que não estava conseguindo ouvir e pedi que me ligasse em cinco minutos, tempo que eu levaria para chegar em local mais silencioso.

Cheguei em dois minutos, me sentei num banco e comecei a pensar em uma desculpa por ter cumprimentado a moça de maneira tão inapropriada. Eu diria, afinal, a verdade: confundi a voz e pensei que se tratava de uma velha amiga, que estaria com um novo número de telefone (isso explicaria o fato de eu ter falado daquela forma mesmo depois de ter visto que o número não estava na lista de contatos e me era completamente desconhecido).

Mas admirei-me pela segunda vez no dia ao repentinamente ser tomado por uma indiferença bestial, que me encorajou a ignorar quaisquer prestações de contas, pois afinal a pessoa que estaria do outro lado da linha nem fazia ideia de quem eu era. Fui tão bestial que nem esperei os três minutos restantes pela segunda chamada; eu mesmo liguei imediatamente para o número e fui o mais direto possível:
- Cultura Inglesa, pois não?
- Hãn... Me ligaram agora há pouco.
- Ah é, nós ligamos para avisar que o senhor pode marcar para vir fazer a segunda parte do teste de nivelamento. Não sei se o senhor ainda tem interesse de se matricular em algum curso...
- Pois é, não tenho mais interesse não.
- Ah, tudo bem então, só telefonamos para perguntar, como o senhor fez o teste objetivo no site, né...
- Não, tudo bem, obrigado.

Novamente perdi alguns instantes pensando que poderia ter explicado aquele "E aí?!" ou o porquê de ter feito o teste online (eu só queria me certificar de que o inglês escrito ainda estava afiado), e de novo me desvencilhei rápido dos devaneios, ri de mim mesmo, da minha cara de pau, da atendente da Cultura Inglesa e me concentrei exclusivamente nas pessoas que apareciam na janela, nas que entravam e nas que desciam do ônibus até que eu mesmo descesse na parada próxima à minha casa.

Não consigo atribuir nenhum motivo à minha mudança comportamental no dia de hoje, mas seja o que for, gostei.

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