domingo, 14 de junho de 2009

NÃO passe no sinal vermelho

Hoje acordei e, caminhando ainda preguiçosamente pelo corredor, em direção à sala, notei que todo mundo já estava de pé; as camas dos outros quartos estavam desarrumadas e vazias. Cheguei na sala e ninguém ali. Mas ouvi meu irmão falando alguma coisa, e o som parecia vir da área de serviço. Ao adentrar a cozinha, imediatamente olhei para a direita, e confirmei a pressuposição. Estavam ele e a minha mãe ali, de pé, ao lado da máquina lava-roupas. Observavam alguma coisa pela janela.

"Que é isso?" foi a primeira coisa que falei, e simultaneamente percebi que minha mãe fungava e levava as mãos ao rosto, em gestos que denunciavam um choro. Antes que eu pudesse articular qualquer segunda pergunta, meu irmão responde a primeira: "Batida."

Nossa, que acidente horrível. Um ônibus havia não somente colidido, mas reduzido a largura de um carro à metade. Certamente as velocidades eram consideráveis, analisando a deformação plástica do que parecia ter sido um Celta branco. Alguém quis passar um sinal vermelho, para ganhar alguns segundos, e a brilhante decisão promoveu o encontro nada romântico da dianteira do tal ônibus, da linha Jardim Botânico, com a porta lateral do outro automóvel - tragicamente, a do lado do motorista.

O choque aconteceu num cruzamento, mas os veículos ainda se arrastaram por quase meia quadra, parando quase na frente aqui do prédio. Podia-se imaginar toda a trajetória apenas olhando para as abundantes marcas de pneu, destacadas no asfalto.

Procurei meu pai pelo resto do apartamento, em vão. Perguntei, assustado, onde ele estava, e a mãe disse que ele havia descido lá, para ver a situação.

Fui à sacada, onde ainda se tinha visão do acidente, e debrucei-me no pára-peito. Quando consegui tirar os olhos do carro e do ônibus colado a ele, vi que já estavam ali a polícia, os bombeiros, uma ambulância e mais uma multidão. Haviam colocado aquelas fitas, para isolar a área.

Logo depois o pai voltou, e disse que estavam tentando tirar a pessoa do carro, pois ainda poderia estar viva. Mas era difícil acreditar nessa possibilidade, ao ver o estrago; a parte do motorista havia sido completamente esmagada.

Eu não ouvi a batida, mas meu pai e meu irmão ouviram. Disseram que foi assustadora, e meu pai teve quase certeza de que alguém morreu só por ouvir o barulho.

Mais alguns momentos depois, a ambulância se retirou do local. Sem levar ninguém. Já era tarde e a pessoa não resistiu. Afastaram o ônibus. Retiraram o corpo. Minha mãe acha que era uma mulher, a julgar pelos cabelos. Depois disso eu não quis mais continuar assistindo.

Acho que não tinha ninguém além da mulher no carro. Também creio que o motorista do ônibus não tenha se ferido, ou, se sim, ao menos não muito. Como as atenções dos policiais e bombeiros estavam voltadas todas para o carro, e o ônibus aparentava vazio, presumo que os passageiros tenham sido retirados e não tenham se machucado.

Pensei em tirar uma fotografia, mas, perdoem-me, o meu espírito jornalista sucumbiu frente à mistura de indignação, perplexidade e horror, que tomou conta de mim naqueles instantes. E eu também não dispunha de uma câmera de boa qualidade no momento. Mas acreditem, era uma cena feia.

Digo-lhes o seguinte: Cuidado. Por favor, cuidado. Desprezando-se a análise da culpa do ocorrido, o fato é que alguém passou no sinal vermelho. E alguém (ou ambos) andavam em velocidade superior ao que deveriam andar. Não façam isso. Por uma economia de alguns segundos ou minutos, tu podes perder uma vida inteira. Não é uma troca inteligente.

EDIT: corrigindo, era um Ka. Apesar de eu estar observando do nono andar, o meu engano já dá uma idéia da deformação sofrida pelo automóvel, suficiente para confundi-lo com um Celta. Fiquei sabendo que era um Ka pela notícia que saiu no Correio do Povo da última segunda (15/06), sobre o ocorrido. Data do EDIT: 17/06/09

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