segunda-feira, 1 de março de 2010

Filmes estranhos

Bom, dispensando o blá-blá-blá (Whiskas Sachê) da postagem anterior, vou falar um pouco dos últimos filmes que assisti.

Preparem-se, pois é cada um mais psicótico que o outro...


O Iluminado (The Shining) - 1980


Este filme é um thriller psicológico dirigido por Stanley Kubrik (2001: Uma Odisséia no Espaço e Laranja Mecânica), baseado no livro de mesmo nome de Stephen King. É um dos mais conhecidos e aclamados filmes do gênero. Um legítimo "must watch". Mesmo assim, confesso que não fiquei tããão impressionado assim, apesar de confirmar a qualidade da obra.

A temática "Isolados em hotel antigo, grande e vazio em pleno inverno rigoroso" parece um tanto batida nos dias de hoje, mas o clima incrivelmente tenso e angustiante proporcionado em cada uma das cenas realmente faz valer a pena. Jack Nicholson está muito sombrio, assustador e imprevisível (tá, talvez nem tanto) nesse filme.

Odeio corredores...

E de fato, não é a temática o ponto principal nesse filme, mas sim os detalhes. Nossa, tem tanta coisa que podemos analisar... As visões do menino "iluminado", o contraste de personalidades que há entre a gentil, atenciosa e horrorizada mãe e o grosseiro, bruto e cada vez mais insano pai (o que nos faz pensar em "como é que eles dois foram se casar?"), os diálogos interessantes entre as personagens, a imensidão e a obscura história por trás do hotel, a sensação de que vamos tomar um baita susto a qualquer momento, as cenas non-sense estranhas, etc.

É um filme velho, creio que muitos já viram, mas também há os mais novos que "não pegaram essa época", como é o meu caso. Nunca vi na TV (hoje em dia isso nunca ía passar, nem mesmo na Sessão da Tarde), e dá uma certa vergonha perguntar nas locadoras se eles tem esse filme disponível ("O quê??? Tu nunca viu esse? Como?). Mas é um clássico e vale a pena. Aconselho baixar na net ou procurar no Tube mesmo.

O mais assustador é o modo como essa cena "surge".


Donnie Darko - 2001


Este é mais recente, menos assustador e, seguramente, bem mais mindfuck que o primeiro. O escritor e diretor estreante Richard Kelly (também responsável por A Caixa, do ano passado) conseguiu fazer um excelente trabalho. Fazia um tempo que eu não me deparava com um filme tão diferente e desafiador. Desafiador sim, porque esse é um filme que te desafia a compreendê-lo. Um quebra-cabeça visual para poucos.

Donald (ou Donnie) Darko é um jovem problemático. Inteligente, porém rebelde; sofre de alguns distúrbios comportamentais, por isso precisa de acompanhamento psiquiátrico, com medicação, etc. Ele também começa a sofrer alucinações (bom, na verdade é difícil saber ao certo o que é alucinação ou não nesse filme) nas quais ele é orientado por um coelho demoníaco gigante (na verdade uma pessoa fantasiada de coelho) a cometer alguns atos de vandalismo.

What the... Fuuuuck???

Falando assim parece um filme bobo, mas acredite, não é. Alienização da sociedade, viagens e paradoxos temporais e fusão da realidade com alucinações são assuntos apresentados aqui. Devo dizer, é difícil entender Donnie Darko. Quando é o começo, ou quando é o final da história? Tal acontecimento é real ou é produto da mente confusa de Donnie? Ou será que é tudo alucinação? Ele avança no tempo, volta nele, ou nenhum dos dois? Quem é o maldito coelho e o que ele representa? Tudo é muito confuso, muitas cenas parecem que não têm sentido nenhum, mas ao mesmo tempo parece tudo tão meticulosamente arquitetado, tudo parece que tem alguma explicação, algum motivo...

Creio que Donnie Darko não seja muito conhecido, muito menos por aqui no Brasil. Mas se tu gosta de cinema, gosta de um bom exercício cerebral e gosta de finais totalmente abertos a milhares de interpretações possíveis (algo que eu não via desde o magistral final de Elfen Lied), então este é o filme.

Quem? Os Smurfs?


Pi - 1998


Apesar do ano de lançamento, Pi é em preto e branco. Um detalhe apropriado e bem pensado, entretanto, para um filme que segue o mesmo estilo dos dois já resenhados aqui: suspense mindfucker esquisito. Este é o primeiro filme do mesmo diretor de Réquiem para um Sonho (2000) e O Lutador (2008), Darren Aronofsky.

A diferença desse para os dois outros é que ele segue uma linha mais "científico-paranóica". Pi trata de números. Tudo se resume a números. Números estão em tudo e o universo inteiro pode ser entendido através de números. Pessoas podem enriquecer com números ou encontrar a salvação nos números. Números, números, números. E mais números. Entenderam o que quero dizer com paranóico?

É quadrada, é feia, mas ainda é uma espiral.

Pi mostra um jovem gênio da matemática que busca através de suas pesquisas encontar um padrão universal por trás da bolsa de valores. A ideia é que em tudo há um padrão no universo. O exemplo clássico (inclusive mostrado no filme) é a Proporção Áurea ou Divina Proporção, obtida a partir da sequência de Fibonacci, que está relacionada em geral com o processo de crescimento na natureza. Observa-se no formato das conchas de diversos moluscos, ou na relação entre o tamanho de vários dos ossos humanos, por exemplo. O próprio Pi, uma das constantes mais importantes da matemática, é o padrão por trás tanto de uma simples figura geométrica quanto de muitos outros fenômenos da natureza. E para o "funcionamento" da bolsa, o protagonista afirma, deve haver um padrão também.

Outras questões levantadas no filme são as seguintes: Por quanto você está disposto para poder entender melhor como funciona o nosso universo? Quanto vale esse conhecimento? O que ele realmente significa? Pois claramente vemos a obcessão e o declínio do matemático na busca por suas respostas. Ele vive trancafiado em seu apartamento e evita ao máximo o contato humano. Por um lado pode ser belo, mas por outro é deprimente.

Mas que *Piiiiiiii* de número é este?

Apesar de pender mais para o lado "ficção científica", o filme ainda tem alguns elementos bem cult, digamos assim, que te põem a trabalhar a massa cinzenta, incluindo o seu final.



É isso aí. Espero que nem todos os filmes sejam conhecidos, assim vocês podem dar uma conferida. Bom, mas mesmo quem já viu pode ver de novo para matar a saudade e tentar descobrir algo a mais; nesse quesito (detalhes pouco perceptíveis) os três são um prato cheio.

Vou continuar vendo filmes nesse estilo e em breve quem sabe eu escreva sobre mais alguns aqui. Té mais.

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