terça-feira, 14 de abril de 2009

O prazer do ouvido (parte 2)

Apesar de cada um ter seus próprios gostos, acredito nenhum de nós ouve somente um tipo de música. Afinal, música tem muitas finalidades e serve para muitas situações. Num dia posso querer ouvir algo calmo, para relaxar, ou mesmo dormir, após um dia duro e desgastante. Noutro estou de bem com a vida e bem disposto; prefiro ouvir uma coisa mais alegre e animada. Noutro, estou com saudade de músicas antigas que não se ouve mais nas rádios. Me ponho a escutar velharias que meus pais (e porque não avós) curtiam. No quarto dia, estou indignado, irritado ou depressivo. Vou querer um som mais pesado e não tão bonito. Às vezes só quero ouvir algo legal, não estou nem aí se a letra é uma bosta, ou se a bateria não está tão boa assim, ou sei lá. Analiso a música mais pelo conjunto da obra. Outras vezes, sou mais exigente, quero um som profundo, de qualidade, que realmente me agrade, e com o qual eu me identifique.

Então música também é momento. Ouvimos o que estamos com vontade numa ocasião específica. E há música para cada ocasião, pode apostar.

Agora, mesmo escutando, de vez em quando, um som qualquer, descompromissadamente, tem certas coisas que me irritam. Uma delas é usar uma onda, modinha ou estilo de música somente para aparecer e ganhar um dinheirinho em cima disso, mesmo sem talento nenhum. É fazer uma bosta dum som (ou melhor, barulho), sem melodia, sem emoção, sem criatividade e sem inteligência nenhuma, e tentar vender isso às pessoas e fazer as rádios transmitirem. E o pior de tudo é quando conseguem... Já escutei coisas tão sem graça por aí, que não sei como é possível.

Sabe, pode até soar legal, mas geralmente fica tão evidente o caráter puramente comercial do troço que me desanima. Como isso acontece? As pessoas gostam disso? Ou é a mídia que nos impõe tais padrões? Será que ela não nos faz engolir tal estilo, dita a nova moda, até que a consideremos legal, por medo da reprovação alheia, e sem saber que na verdade os outros, no fundo, também sofrem a mesma coisa?

O que vemos por aí é cópia atrás de cópia. Um cara fez, alguém gostou. Daí veio outro e fez a mesma coisa, porque já sabia que provavelmente iria dar certo também. E o público aceita.

O que são todas aquelas letras melosas e sentimentais em toda e qualquer porra de música de pagode? É sempre aquela mesma história: o eu-lírico falando como tal pessoa é bela, doce e maravilhosa, como os momentos juntos foram inesquecíveis, como ele não pára de pensar nela ou como ele fará para conquistá-la e blá-blá-blá. Sempre aquela coisa alegre, cheia de palavras bonitinhas e sensíveis e metáforas manjadas, fáceis de compreender. Não condeno completamente o pagode; já ouvi músicas boas. Em qualquer estilo há algo de bom, acredito. Mas faça-me o favor, como é que as pessoas não enxergam que é tudo cópia? Sempre aquele mesmo papo furado feliz. Ouvir uma, duas músicas, ok... Mas ouvir toda hora isso, ou dizer só gostar desse tipo de música não dá.

Ou funk então... Batidas legais, mas todo o resto, sinceramente, é um lixo. Como é possível gostar de algo tão vulgar (e muitas vezes, idiota)? Uma coisa é ter naturalidade para falar sobre sexualidade. Outra é ficar falando "Créu, créu, créu" repetitivamente, com uma voz muito irritante (para dizer o mínimo), e sujeitar suas dançarinas a ficar empinando e chacoalhando a bunda verticalmente, com o mínimo de tecido possível. Reduzir o gênero feminino a objeto descartável de prazer, promover a alienação e a banalização do sexo. Sexo não é um assunto banal, sem importância. Existem cuidados a serem tomados, é preciso informação e consciência. Hoje vemos por aí meninas nos seus 10, 11 anos, já vestindo roupas de conotação sensual, com peças curtas e apertadas, etc. Vemos pais e mães de 13 anos, vemos pais e mães de 5 filhos e desempregados, vemos pessoas pegando AIDS.

Talvez não seja só o funk o culpado desses grandes problemas. Temos também a própria internet, na qual a pornografia desenfreadamente se multiplica, todos os dias. E, não vou mentir, todos gostamos de uma sacanagem e de um pouco de putaria. Mas já basta a internet, né? Posso olhar num site de graça, não preciso ter um cara se fingindo cantor num palco, me fazendo imaginar como seria fazer coisas com a mulher que está exibindo as qualidades ali do lado dele.

E para variar, é tudo a mesma coisa. Já repararam como surgem tantos MC's novos a cada semana, e no outro mês ninguém nem se lembra mais deles? Cada um faz 1 música, consegue uma atençãozinha da mídia, e depois, nunca mais.

O texto acabou ficando ou pouco maior do que eu planejava (normal...). Continuo o assunto depois, então. No próximo post, música de verdade! xD

Aguardem.

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